sábado, 30 de janeiro de 2010

Ela não sabe muito bem da vinda, da despedida, dos reencontros e encontros. Não sabe muito bem das palavras que lê ou escreve. Não sabe muito bem do que e no que pensa. Sabe que às vezes, ou quase sempre, ela sente. Perde um dia inteiro, um mês inteiro, um ano inteirinho, sentindo. E esse tempo que vê passando pelo retrovisor do carro, foi apenas o tempo que deixou ir, enquanto se perdia no sentir. Sente na pele o vazio que tudo ao redor transmite. Não há nada. Não há uma palavra, uma letra, uma voz, um olhar próprio. Não há nada. Apenas aquele velho vazio acolhedor de sempre. Talvez ainda devesse ouvir algo mais limpo, vestir uma roupa mais alegre, pular de um lugar bem alto enquanto canta uma canção conhecida. Talvez devesse dar um telefonema, saber como alguém está e se está. Talvez um cigarro, uma bebida mais quente que não fosse o café com leite do começo do dia. Talvez uma palavra de amor, de carinho ou quem sabe, de raiva. Tanto faz. Talvez devesse engolir as fotografias e cartas, cortar o cabelo, tatuar o corpo todo, subir em um palco e pedir alguém em casamento. Talvez menos sonhos impossíveis, talvez uma semana na cama com alguém e mais nada. Talvez uma mente vazia, também. Talvez tudo isso, talvez nada. Perde tempo demais pensando nas causas do mundo e nos motivos que as pessoas muitas vezes não tem para serem exatamente do jeito que são. Mas é um círculo vicioso, e muitas vezes não se dá conta de que um círculo não tem saída e nem entrada. É apenas você e você. Mais nada. Logo, todos os talvez correm o doloroso risco de nunca irem além. E ela, ou quem mais se encaixar, continuará sem saber das vindas, das despedidas, dos encontros, dos reencontros, das palavras que lê ou escreve, do que pensa ou, no que pensa. - Mas, ainda há tempo, eu sinto! – pensa ela, um pouco inquieta com o que acaba de ler.