terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Não foi apenas um sonho.

- Quantas estrelas, não é? – perguntou ela, sem muito que dizer. – Como assim? só consigo ver sete. – respondeu ele, um bocado perdido. Ela continuou, mesmo não sabendo muito bem o motivo. – Ah, mas você tem que enxergar. Se olhar realmente, com os olhos bem abertos, vai se dar conta de que há muitas outras estrelas olhando de volta para você. – E sorriu. Um silêncio perturbador pairou entre os dois jovens, tão jovens que nem tinham a total noção de o quanto eram jovens. E do quanto ainda estaria por vir. Talvez, um silêncio perturbador para ele. Para ela, era como se fosse uma total explosão de felicidade, por tanto tempo esperado, ainda conseguia sentir a sensação mais bonita que um coração é capaz de sentir. Sempre tentou entender como um coração pode esquentar. Assim, esquentar de verdade, mesmo. Literalmente. Com o tempo, talvez entenda que essas coisas do coração, nunca vão ter explicações.

Ficaram por ali, durante muito tempo, e nem passava pela cabeça de ambos em sair de perto um do outro. Ele sabe que gosta da forma que ela fala, da forma que tenta arrumar os cabelos que não se arrumam, de como tenta explicar coisas das quais ele acha que nunca vai entender, da cor da pele e dos olhos não definidos, do estilo um bocado largado que ele nunca gostou, mas que nela, ele achava bonito. Da forma como não se importa de sentar no chão sem se importar se as roupas estão limpas ou não. Ele sabe que gosta de tudo isso, só ainda não se deixou saber. Pelo simples fato de nunca ter se importado com detalhes nas pessoas. Mas de qualquer forma, não queria sair do lado dela. Ela, por sua vez, e pela primeira vez, desorientada. Achava cômico não conseguir entender o que sempre entendeu. E não saber o que fazer ou o que falar, era praticamente a morte. Engoliu palavras, gestos e um coração quente. Mas não mente, não é assim. E sabia exatamente o porque de estar ali e não querer ir para lugar algum, nunca mais em vida. Para ambos, momentos de intensos aprendizados. Cada um com sua paz, seu silêncio e o seu presente momento para sempre. Permaneceram ali, enchendo os pulmões de vida, e a vida, de novidades.

– Penso que agora eu consegui. – falou ele, um pouco tímido. Mas não tanto como se acostumou a ser. – Conseguiu o que? – disse ela. – Enxergar mais uma estrela. Agora consigo ver oito. Gosto do oito. Além de ser um número par, ele é desenhado bonitinho pelas crianças. É como um laço, entende? – terminou sorrindo e tranqüilo. – Acho que sim. – e sorriram juntos. Sinceros.

(...)
- O que foi, mãe? – perguntou um pouco assustado, mas ainda sorrindo ao acordar.
- Não sei... Você sorria enquanto dormia. Achei bonito. – disse.
- É... Sonhei com algo bonito, mãe. Seu filho aqui descobriu algo bonito. Realmente bonito.