Lembro da primeira festa de aniversário, lembro também que sempre chorava quando cantavam parabéns. Lembro do cheiro das flores do jardim de minha avó, e lembro que o cheiro continua o mesmo todas as noites. Lembro do meu primeiro animal de estimação. Lembro que a adorava, Lili, e lembro que foi por isso que descobri uma de minhas alergias.Lembro das festas em família, sempre animadas. Lembro dos natais e viradas de ano, quando as famílias ainda não tinham se distanciado de alguma forma. Lembro das primeiras paixões bobas na escola. Lembro que sofria por sentimento desde quando as paixões eram bobas. Lembro do suposto amadurecimento na juventude, que sempre me renderam boas risadas. Lembro do primeiro cigarro, da primeira erva. Lembro do primeiro porre, lembro também que foi na infância, em uma viagem à Fortaleza para visitar familiares. Lembro que tinha uns sete anos, acho. Lembro que todos os familiares riram por não terem percebido que a pequena bebia enquanto todos conversavam. Lembro que nesse dia, a pequena dançou forró sozinha no meio do bar que estavam. Lembro também que no mesmo dia, a pequena tentou brincar com a prima de quem ficava mais tempo sem piscar, a pequena perdeu, claro. Puro porre. Lembro do primeiro beijo, que deprimente. Lembro dos outros vários animais de estimação, e lembro também dos que cuidava na rua quando pequena. Lembro da primeira melhor amiga, e lembro exatamente como nos conhecemos. Lembro que foi na primeira série, no primeiro dia de aula. Lembro que estava indo levar o caderno para ser corrigido e ela apareceu por trás e me cobriu os olhos com as mãozinhas pequenas e delicadas. Lembro que detestei aquilo, muito inconveniente, mas lembro que foi a partir disso que comecei a amá-la. Lembro do primeiro namorado, lembro também do primeiro suposto amor. Lembro da morte de uma amiga, e lembro que chorei em silêncio o caminho todo até o cemitério, lembro também por ter me apaixonado pelo cemitério. Lembro das briguinhas com meu pai. Lembro que o cheiro de cigarro ou de qualquer coisa do tipo me deixa incomodada. Lembro dos dias em que conheci meus melhores amigos de hoje. Lembro do dia em que Sofia chegou. Lembro de minha única tatuagem, que não foi tatuada em minha pele, mas que mesmo assim me causou uma dor maravilhosa. Lembro do dia em que ganhei meu melhor presente de aniversário, e lembro também que tentei seguir todas as regras que continham nele. Lembro que algumas vezes eu não consegui seguir as regras, e lia mais do que poderia ter lido por noite. Lembro que adorava. Lembro da primeira crise de choro por angústia, por tristeza, por raiva e também por amor. Lembro da separação dos meus pais, e lembro que isso nunca me abalou muito. Lembro da mudança de casa e das lembranças que deixei para trás. Lembro das crises emocionais do irmão, e lembro que isso me incomodava. Lembro da primeira transa, e lembro da certeza que tive que jamais me arrependeria. Lembro que não mudaria data, pessoa e nem sentimento. Lembro muito, e lembro que muito é tão pouco, ainda. Lembro da primeira viagem apaixonada pra fora do estado, e lembro também da primeira viagem dentro de um quarto. Lembro de decepções, e lembro de discussões. Lembro de um dos dias que gostaria de voltar para revivê-lo, lembro que foi o dia em que três garotas decidiram se aventurar juntas. Lembro perfeitamente da sensação que transbordou e clareou minha vida, no olhar. Lembro do melhor show da minha vida, da banda do rapaz que tem a voz mais bonita. Lembro das ligações que fiz. Lembro de tudo e muito mais, e lembro também que nunca gostei de falar sobre a minha vida. Lembrei agora que antes de todas estas palavras, não tinha a menor idéia do que escrever, mas que gostaria de escrever algo. E também lembrei de vários outros acontecimentos com as pessoas que mais amo, mas que não deixei por aqui. Lembro sempre que tenho vidas inigualáveis em minha vida. Lembro todos os dias, e todos os dias apesar de serem difíceis muitas vezes, lembro que sou feliz e que tenho motivos para isso. E isso basta.