Torná-lo real não o excitava, tão pouco o faria movimentar-se até a próxima esquina da avenida principal para descobrir quem realmente é. Foram anos e anos de questionamentos internos, sobre quem aparentava ser, quem realmente era ou quem gostaria de ser. Desde pequeno nunca se identificou com nada, e se apaixonar por uma garotinha no primário era assunto impossível. Todas as garotinhas eram chatas, feias, cheiravam mal e algumas eram até vesgas. Mas isso é coisa de menino, o sexo oposto ainda era visto como o sexo rival, depois de uns anos isso passa, não é mesmo?. – Não, dessa vez não passou. No colégio as coisas não mudaram muito. As matérias não o interessavam, tudo era muito chato... e as garotinhas, agora sexualmente ativas, eram mais chatas ainda. Trocaria tudo aquilo por dias em casa, ou em qualquer outro lugar que poderia por algum momento chamá-lo de ‘seu’, com um bom livro e boas músicas. Mas se não vai as aulas, não se forma e não entra na faculdade. Não que o desejava, mas de alguma forma teria de fazer todo esse tormento desinteressantíssimo, que foi seu processo penoso de amadurecimento, render alguma coisa no futuro. Assim prosseguiu ele, tocando a boiada. Crises existenciais, namoros praticamente inexistentes por nunca durarem mais que nove meses, nuvens, autores e bandas favoritas, pressão psicológica e outros detalhes preencheram mais que metade da adolescência. Já na faculdade, conseguiu arrumar um estágio chato, aliás, tudo continuava muito chato. As sexualmente ativas, viraram predadoras, e ele, debilitado por tudo ser tão completamente vazio, sempre. Porém, esperava toda noite para ver o rosto mais belo que havia ali, se era predadora ou não, não sabia e também não se importava, não com ela... gostava de saber que estava presente. Mesmo assim, nunca satisfeito. Começou a pensar muito no tempinho de menino, talvez até trocaria todos os livros já lidos pelas garotinhas chatas, feias, que cheiravam mal ou até as vesgas. Tudo para tentar descobrir o que perdeu de tão importante no começo da vida, pra tudo não ter caminhado tão bem como gostaria. Por fora, decidiu dar a chance de a vida mostrar-lhe algo a mais. Mas por dentro, ele não tem nada dela. Ele é só ele. E só, ele é.